top of page
  • Twitter
  • Facebook

Roberto Terra Costa

ITINERÁRIO

rota 5

atravessa o campinho das peladas, grama rala, goleiras de

pau, até um boteco na esquina e o fim da vila/ o areão da

ruela graúdo sob as solas/ adiante a estrada alonga-se

entre pastos e campos, roças, chácaras/ seus passos batem

bem, seus sapatos meio por si que os olhos pela várzea e

os morros soltam-se/ poças: céu/ pontilhão no riacho e lá,

a uns cem metros, está a bifurcação

          casebre caiado bem no meio dos dois rumos da

estrada, atrás no seu quintal a senhora ao varal

dependurando roupa/ indagada, pára o que fazia e sai, as

mãos no avental ela enxugando, pelo portão/ “olhe”

aponta: “pode ver aqueles eucaliptos, pois não? a trilha

por ali e o senhor só tem que ir em frente”/ “obrigado”/

“ao dispor”/ volta à sua casa rés-de-rua a prestativa, da

via pública

          manhã alta/ à sombra das folhas persiste algum

frescor, as nuvens se partindo/ já passou os eucaliptos tão

balsâmicos e sobe pela trilha em degraus, árdua/ tem

resvalos de cascos nas barrocas, também partes pedrentas/

o andarilho a suar e destrajando sua jaqueta apressa-se o

que pode, um fole o fôlego, ao sentir fino olor nas auras do

ar: o verão em flor/ vasta abre-se a paisagem

           da rocha à beira tira seu boné e expõe-lhe, ao

vento enxuto, a calva o escriba/ com gosto empina a cara

para o céu tal como sempre quis um dia morrer: de pé em

algum caminho/ ao se voltar depara-se co’um touro todo

branco à borda do barranco, seu maciço porte de encontro

ao azul, as grandes guampas/ em cima o touro-mor

escarva, o sol, e berra seu calor, sua luz pansêmem

          o coração batendo entre as costelas, ainda ardente/

anda/ a trilha erodida, água escoando/ se equilibra por

sobre ásperos seixos e pedregulhos/ devagar como à idade

convém e à compleição, mas devagar e sempre, ele se

adianta por entre um capoeirão/ respira fundo/ importa-lhe

que está afinal na ativa: mochila leve às costas, um bastão,

é como tudo começar de novo

          pela frente um brejal, o pula-pula de pedra em

pedra e um mato entrelaçado, entrevado/ aí transpõe co’a

maior cautela pinguela/ chega a achar: “eu me perdi”/

pode, que um pouco atrás houve ali ponto onde o caminho

reto dividiu-se, u’a picada partia para a esquerda, ele

porém seguiu esta senda mais aberta/ mas logo avista,

alívio! sobre as copas num mastro de bambu a bandeira

branca

          o Bandeira da Paz remoto sítio onde agora Han

Shan morando está, o velho companheiro da Escritura/ o

escriba, um riso em lábios, brilho esperto no olhar adiante-

adiante, premedita fazer uma surpresa, dar um susto no

amigo antigo, “êh” trama: “sacudí-lo no retiro”/ se chega e

afasta galhos, ver melhor o terreiro com o mastro, quando

um: “EI!” lhe toa às costas/ quase morre

          não senil velho Han, pelo contrário, magro e teso,

parece u’moço lépido de corpo, no seu rosto um riso

franco/ talvez devido às práticas ascéticas/ “você também

não está mal, de cara ótima, corada”/ “a caminhada para

cá, ufa, o que me esquentou/ mas a propósito, que moquifo este aqui onde vies’te enfiar!”/ “é p’ra só gente tipo assim você poder chegar”/ frontais, riem e se abraçam

          saindo da mata já, sem intervalo abre-se o

terreirão à do sol quentura, revoantes as pombinhas/ late

um cão e rindo vem co’o rabo/ ao fundo casa de pau a

pique e de barro, colmo a telha, mas com reboco liso e

limpo/ um toldo p’ra lenha ao lado, d’água poço, horta,

mais além bananal, morros em volta/ e na ramada baixa no

frontispício da choupana a cordial sombra anfitriã

* * *

Estas são as duas primeiras páginas do rota 5,

para acessar o texto completo acesse o link abaixo:

© 2025 por Roberto Terra Costa

bottom of page